domingo, 25 de abril de 2010

virgula.

" É evidente, é óbvio, é quase que ridículo!"

Exclamando entra uma pausa e outra dos seus ataques de raiva, entre os seus punhos cerrados, entre os seus olhos de um sentimento em ebulição.
A incontestável verdade da descoberta até então esquecida (ou negada) de que a estrada e seus planos uniam-se em um caminho de atrito, da discórdia entre duas vertentes que insistiam em se anular. Era a estrada - a verdade, o inegável - e os planos impossibilitados da mente de um sonhador.
Esqueceu-se na gaveta do escritório, nas cobertas da cama, na chuva lá fora, nos olhares desapercebidos de tantos caminhantes das ruas movimentadas... Esqueceu e foi desentendendo o que por obrigação deveria ser dele/ele - e era, porque só era.
Por isso que após muitos devaneios ele se encontrava ali, a distribuir socos e ponta-pés a sua surrada cômoda de muitos anos. Uma batida, outra, e muitas outras que deram continuidade a uma sequência de contestações.
- Descoberta -s.f. Coisa que se descobriu; descobrimento; achamento; invenção; invento.
E foi assim, que descobrindo alguém chorou, que descobrindo alguém não deparou-se com a surpresa, mas sim com a necessidade de esquecer. Enganado estava aquele que supôs o fardo a partir da dor do espetáculo, já que foi muito antes, em algum lugar, que o homem encontrou e escondeu um fantasma inevitável.
O silêncio então recaiu sobre o fim da tarde, e dentro do cômodo vazio, ali estava aquele homem de pé, a carranca convencida pela realidade da vida. O corpo que mostrava sem muito pedir aquilo que obviamente destruíra aquela pobre alma. E foi esquecendo que ele aprendeu a lembrar, foi esquecendo que depois de suas muitas voltas pela vida, ele convenceu-se que o destino é impossível evitar.
Sentou-se e respirou sereno, fitou por alguns instantes os últimos raios de sol do dia, e levantando se dirigiu para a saída mais próxima, olhando conformado para o lugar onde seria sempre o seu refugio, a sua fuga e a misericórdia de quem o sentenciou a ser/estar.
Trancou a porta convencido de que aquele era um ato tão estúpido quanto a sua submissão à estória do seus dias, mas trancou, porque nada mais poderia mudar aquilo. O livro velho guardado na última prateleira, esquecido por aqueles que jamais desejaram ler sobre o pranto constante de um injustiçado, as páginas já rasuradas por alguns que se arriscaram a entender e mudar o rumo, a capa sem muito remendo, apenas mal-tratada e sem muitos olhares de atenção.
Foi assim que contou-se sem muito prestigio, a estória de um homem em uma sala vazia, de um ataque sem muitos efeitos, de uma trajetória sem muitas opções. A estória de um homem sozinho, destinado assim pelo destino à solidão.

-"É em vão, meu caro, em vão."


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