domingo, 28 de fevereiro de 2010

O momento em que me refugio do resto do mundo talvez seja o momento mais esperado do dia. É quando posso fechar a porta e acreditar que o trem deu uma pausa, um tempo de descanso, algumas horas para esquecer que são incontáveis os dias que estão por vir.
Esse momento é singelo, é sereno, e dentro deste quarto eu só posso me ouvir, entender e refletir tudo que se vê separado de mim.
Talvez eu seja meio louco, anti-social e fechado... Talvez. Mas é que meu silencio é meu tesouro, e é involuntário o alivio que se dá. Faço silencio como amo, calo na tentativa de dizer, e dói na tentativa de não sentir, só pensar.
O momento que me refugio do resto do mundo é mágico, e se faz sentir até no ar, que de um jeito discreto diz para os ouvidos que estão aptos a escutar, sussurra de leve, mas diz, diz como quem pretende marcar... "você pode respirar".

esteja.

A estabilidade é algo que criamos para nos tranquilizar, mas que só existe na nossa mente que brinca de "faz de conta". Nada está tão estável quanto aparenta estar, e tão seguro como pensamos.
Na verdade, em questão de segundos, essa estabilidade se esvai em desastres e mudanças, em revoltas e tempestades, e tudo a nossa volta não é nada além de uma linha bem torta que vai sumindo a cada segundo que se passa.
Vamos nos perdendo entre discursos e pronuncias, nos afundando nas coisas que foram ditadas por nós. Desentendendo o entendido e ajoelhando-se por fim, sem entender, sem se pronunciar.
Não existe estabilidade quando nos damos conta de uma avalanche de informações que nos veio, que sem perguntar se abrigou à nossa porta. Nem estabilidade nas idéias de quem perdeu não a vida, mas tudo que a abastecia e fazia valer o significado.

Nada está tão estável quanto parece estar...



domingo, 14 de fevereiro de 2010

Winter Song, da Sara Bareilles e a Ingrid Michaelson.
Linda!

estou me mudando mais uma vez.

-"Para que não te perturbe!"
Eu realmente ouvi isso?
Na verdade, venho me perguntando desde então se eu realmente ouvi e vi tudo isso.
Há uma realidade convencional, seu mundo de sempre, seus dias baseados em algo e/ou em alguém, e bastam alguns segundos e fim, tudo isso tem que mudar.
Eu realmente estou ouvindo tudo isso?
Onde foi parar as minhas idéias, meus conceitos, minha própria realidade?
Onde foram parar os meus discursos certos, a minha certeza no viver, as minhas palavras tão firmes?
Eu estou tentando entender, inspirar toda essa neblina que se pôs a minha frente, reorganizar as imagens, colocar cada ponto no seu eixo, e fazer disso algum sentido, alguma razão para continuar com o que estava sendo.

O que eu estava sendo? O que eu estava vivendo?
Se não uma realidade inventada, omitida, planejada.
Se não um mundo sem sentido, sem informações, sem visão.

E então, o que eu estava vivendo?
Eu não posso acreditar no que estou ouvindo, não quero acreditar no que estou vendo.
Se já não era o meu herói, já não és mais nada além de cinzas.
Uma falsa moral, um discurso decorado, e nenhuma palavra baseada, e nenhuma palavra verdadeira.

Quem és tu? Se não um desconhecido do acaso, se não o vazio.
Quem és tu?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

à sete chaves.

Há lembranças que a gente nunca viu, lembranças que não nos pertence, mas que diante de sua intensidade nos toca o coração e nos leva a crer que não existiu nada mais bonito.Lembranças são como um retrato, um retrato de um momento que nos faz suspirar mesmo tantos anos depois.
Lembranças são guardadas no peito feito tesouro à sete chaves, e só é assim porque no fim são elas que nos fazem o que somos, o que seremos, e o que já fomos.

E então, após optar por se impregnar das lembranças de alguém, você passa a entender esse alguém de um ponto de vista muito distinto. Porque para você o mundo passou a se organizar de uma forma diferente, e a diversidade desse mundo te parece muito mais fascinante do que antes.
Não importa a lembrança de quem, só importa é que há uma essência. E sendo nossa ou sendo dada, lembrança é feita para sentir, e dar-se a oportunidade de tal nós faz a diferença de uma vida corriqueira ou toda cheia de recordações.

Há lembranças que a gente nunca viu, mas sentiu.
Sentiu porque se permitiu entender que é esse o tesouro dos homens. Aquilo que guardado na mente está, e que apesar dos anos não se muda, não se altera, apenas permanece para fazer entender que a maior qualidade do homem é ser um ser naturalmente cineasta.

É como um retrato, um filme, uma novela diária.
Tantas cenas, histórias, e roteiros sem fim.

Por isso, um homicídio as vezes tão mais culposo é matar uma lembrança. É privar-se de ouvir, nem que por um minuto, aquilo que alguém tem para te contar. Tanto faz a lembrança, antiga ou nova, de ontem ou de amanhã, é raro e exclusivo, e deve-se sempre ouvir atentamente.
Há lembranças que a gente nunca viu, mas sentiu. Sentiu porque transbordava o coração, a alma, e todas as barreiras mais. Sentiu porque um átomo não seria capaz de conter, e porque o tempo(senhor da razão) fez dela uma garrafa de vinho envelhecida, tão mais preciosa, tão mais gostoso de beber.
Lembrança nossa ou lembrança vossa, a certeza é que sempre há, e não importa a circunstância, lembrança é sempre tão lembrança.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

reclusão.

Ter consciência que há amor e não poder se confortar no calor dele, é como se nos privássemos do nosso sangue, e o vazio que vem logo depois faz questão de preencher o conceito. Sem sangue então, morreríamos secos, assim como uma folha que cai de uma árvore no outono. E se não é suficiente, talvez essa folha só caia no verão, em um lugar onde o clima é seco e não há vestígios de qualquer umidade. Seco como um verão vermelho, como a descrição de uma sertão de "asa branca", de um Luiz Gonzaga que escreve a miséria de um povo eternamente cheio esperança.
Há amor, só não há um poço para saciar-se, e como conveniente é, não existe qualquer sinal de ajuda, apenas você e o nada, e um poço todo cheio daquilo que na ausência te causa o sofrimento de uma vida sempre seca.

Ter consciência que há amor e não poder tocá-lo é como uma vida seca toda cheia de miséria, procurando nas migalhas um motivo qualquer para sorrir, e fazer em cima disso um suporte para felicidade. E se faz feliz, e sorri, porque isso alimenta a alma e a transcende, e junto a ti tudo aquilo que faz existir.

Há amor, não há um meio.
Há sorriso, há felicidade.
Sem amor, com amor, sobrevivendo.
É assim que se existe.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

rabiscando.

Essa sensação de incapacidade me acompanha já faz um tempo, e eu já nem sei quem eu era antes de tê-la(ou ela me ter). Aos meus olhos a evidente perfeição, talvez seja por isso que eles sejam tão bonitos, para agraciar todas as coisas que seriam perfeitas para mim, mas que infelizmente não se juntou ao que deveria ser. É de ventura tudo aquilo que me rodeia e me diz como que num sussurro fatal - "Isso não te pertence, mas foi feito para você!"-. Faz sentido? Talvez o nexo faça parte das coisas que se encaixam, e fui eu, que nesse quebra-cabeça desfalcado ainda não encontrei o encaixe.
As coisas tão mais bonitas que poderiam ser, e não são. Por que? Às vezes eu procuro me convencer que essa questão independe de fatores externos e só vem a depender de mim.

Mas e aí? Desfaz e refaz e o mundo gira da mesma forma, com os retratos bonitos ao meu olhar... Só no olhar.